sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Teatrólogo pernambucano Luiz Marinho tem obra reunida em coleção de livros

Ele morreu em 2002, vítima de complicações por um câncer na bexiga. Foto: Clemilson Campos/DP/D.A Press

A primeira peça teatral escrita pelo pernambucano Luiz Marinho, Um sábado em 30 (1960), coloca em cena uma família de senhores de engenho de Timbaúba, na Zona da Mata, que apoia a Revolução de 30 (responsável por colocar Getúlio Vargas no poder). Em tom cômico, o texto expõe hábitos de uma sociedade patriarcal e exageradamente estratificada, mas que mimetiza pensamentos liberais de uma "renovação política". No final, como geralmente sugere a maioria das comédias, tudo começa exatamente como terminou. É que essas “revoluções brasileiras”, na verdade, sempre consistiram na alternância de poder entre grupos da elite.

A estreia já mostrava o principal traço de um dos dramaturgos brasileiros mais importantes da segunda metade do século 20: a “memória ficcionalizada”, como explica o acadêmico Anco Márcio Tenório Vieira. Trata-se de vieses etnográfico e sociológico que resgatam costumes, linguagens e personagens guardados nas lembranças de Marinho durante a infância e adolescência em Timbaúba. Essa peça, junto com outras 13, estão reunidas na coleção Teatro de Luiz Marinho (Cepe), dividida em quatro volumes, com mais de 1,2 mil páginas. Os livros serão lançados nesta sexta-feira (1), às 19h, no Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, 142, Bairro do Recife), dentro da programação do festival Janeiro de Grandes Espetáculos.

A compilação foi idealizada por Anco Márcio Vieira, professor do Departamento de Literatura da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) que também escreveu a biografia Luiz Marinho, o sábado que não entardece (2004). O autor veio fazendo um minucioso trabalho de digitalização desde 2009, reunindo sete textos já lançados (com atualizações que o autor fez antes da morte) e outros sete nunca publicados.

Em 2017, a Companhia Editora de Pernambuco decidiu abraçar a ideia de registrar em coletânea a obra desse influente dramaturgo, contemporâneo de Ariano Suassuna, Augusto Boal e Plínio Marcos. Os 4 volumes são divididos em eixos estilísticos elencados por Anco: Peças regionalistas (Vol. 1, R$ 60), Peças regionais (Vol. 2, R$ 40), Peças psicoexistenciais e protossurealistas (Vol. 3, R$ 30) e Peças infantis (Vol. 4, R$ 30).


Foto: Cepe/Divulgação

"Dentre os dramaturgos pernambucanos da segunda metade do século 20, encontramos nas prateleiras Nelson Rodrigues e Ariano Suassuna (paraibano radicado em Pernambuco). Já de pessoas como Marinho, é muito raro achar. Essa coleção vai ajudar quem deseja conhecer e estudar mais sobre o teatro brasileiro através desses textos extremamente importantes", diz Anco Márcio.

Durante sua carreira, Luiz foi responsável por revelar nomes como José Wilker, Elke Maravilha e Tânia Alves. A derradeira ceia (1961), Incelença (1962) e Viva o cordão encarnado (1968) são alguns outros destaques. Essa última chegou a conquistar o Prêmio Moliére, o “Oscar do teatro francês” - sendo um dos poucos brasileiros a consegui-lo. Até hoje, Marinho segue sendo um dos pernambucanos mais premiados e com obras revisitadas em montagens. Ele morreu em 2002, vítima de complicações por um câncer na bexiga.
SERVIÇO
Lançamento da coleção Teatro de Luiz Marinho (Cepe Editora)
Quando: nesta sexta-feira (1), a partir das 19h
Onde: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, 142, Bairro do Recife)
Quanto: Entrada gratuita




Fonte: www.diariodepernambuco.com.br   Por: Emannuel Bento

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