terça-feira, 13 de outubro de 2020

Dia Mundial do Escritor. Além do escritor, quem é preciso para criar um livro?

Fotografia: Susan Yin/Unsplash

O Dia Mundial do Escritor celebra-se esta terça-feira, dia 13 de outubro. Apesar do papel fundamental do escritor na autoria dos livros, muitos leitores ainda o vêem como o único responsável pela criação literária. O Espalha-Factos conversou com duas editoras portuguesas sobre todos os autores de um livro, dos ilustradores aos revisores e aos designers.

A Paleta de Letras é uma editora situada na cidade Braga e vocacionada para o universo infantojuvenil. Pedro Seromenho, cara do projeto, fala sobre a valorização do papel das editoras, ilustradores, designers e outros intervenientes, em relação à do escritor. “Sucintamente, é esta frase: o escritor vende mais e melhor do que o ilustrador. Se eu for [apresentar o livro] como ilustrador do livro que ilustrei, eu não consigo vender o livro como o escritor vende. Isso ainda está enraizado na mentalidade do leitor”, refere.
Fotografia: Paleta de Letras/Facebook

Já Paulo Rebelo Gonçalves, responsável pelo Gabinete de Comunicação e Imagem da Porto Editora, revela que as “editoras são fundamentais para a promoção do livro, da leitura e do conhecimento” e que não sente a mesma distinção.
O papel das editoras

Para Pedro Seromenho, o papel das editoras é estarem atentas “às novidades, aos valores emergentes, aos autores, escritores, ilustradores, contadores de histórias”, entre outros pontos essenciais. O processo da editora passa tanto pela criação de raíz como pela procura de novidades nos mercados internacionais para trazer para Portugal. “Aqueles livros que realmente nos tocam, nos fazem vibrar, apaixonar, tentamos comprar os direitos de autor, para produzir e para editar e distribuir em Portugal. Temos esse pequeno orgulho de trazer títulos fantásticos que estão hoje no mercado e que descobrimos noutros países e noutras editoras”, sublinhou.

Além disso, fazem ainda o ato inverso: quando criam um trabalho de raíz, tentam exportá-lo para outros países sempre que possível. A pandemia veio também trazer algumas alterações a este processo na Paleta de Letras. “Tivemos de nos adaptar às plataformas digitais, mas o processo e a intenção continuam a ser os mesmos, que é pegar numa ideia, numa ideia que pode ter sucesso, e trabalhá-la com o texto, com a ilustração, com o design, com a parte gráfica… Tudo isso contribui para que o produto final seja um objeto mágico que é o livro“, finaliza Pedro Seromenho.

Fotografia: Paleta de Letras/Facebook

Segundo Paulo Rebelo Gonçalves, “as editoras cuidam dos autores e dos seus originais”. Com profissionais especializados em diferentes áreas, “são importantes para dar corpo ao trabalho criativo do autor”. “Uma editora profissional inclui inúmeras valências que existem para apoiar os autores, para os promover e às suas obras”, acrescenta.


O descrédito de todas as partes envolvidas na produção do resultado final

No panorama geral, Pedro Seromenho pensa que a distinção entre os vários autores de um livro já não é tão grande atualmente. “A sensação que eu tenho do mercado é que há umas décadas sim, o autor da obra era o escritor, era o supra sumo que tinha o nome na capa e o que potencialmente vendia o livro, era o seu nome e a sua autoria. Aliás, o ilustrador nem aparecia na capa, o ilustrador era um mero decorador a quem depois era dado o texto para decorar”, explica.

No entanto, o escritor e ilustrador refere que o conceito de ilustração mudou e esta arte “ganhou vida própria”. “O ilustrador já não só decora, mas recria a história à sua maneira, é por isso que por vezes temos livros que contam as histórias só pela imagem, porque o ilustrador reconta através da ilustração”.

Em relação a outros momentos da produção dos livros, como a edição ou o design, Pedro Seromenho também refere que já são mais valorizados do que eram antigamente, apesar de a maioria dos leitores ainda não conseguir perceber bem o seu papel. “Não digo que é subestimado, mas o facto de as pessoas não conseguirem concretizar esse nível abstrato quando pegam num livro, não as faz perceber o trabalho que aquilo dá, não conseguem assimilar o papel do revisor, do editor, assim de imediato”, refletiu. O autor afirmou então que é nesse ponto que, especialmente em Portugal, “em certos casos o escritor ainda é o autor, ainda é a pessoa que alavanca o projeto“.Fotografia: Paleta de Letras/Facebook


Isto deve-se muito à imagem comercial, diz o escritor e ilustrador. Para Seromenho, a melhor forma de consciencializar o leitor desse trabalho é através da formação, com workshops e mediação. “Acho que esse trabalho só pode ser feito através da mediação da leitura. É muito importante o mediador da leitura”, sublinha.

Por sua vez, a Porto Editora não sente qualquer desvalorização em relação aos escritores. “Pelo contrário: o que registo da parte dos muitos milhares de leitores que temos dos nossos livros é uma estima enorme, uma ligação afetiva fortíssima, uma confiança sólida”, refere Paulo Rebelo Gonçalves.


A importância das editoras na avaliação da qualidade das obras

Pedro Seromenho acredita que, sem as editoras, “haveria um decréscimo abrupto de qualidade dos livros em livraria, porque a editora assegura um nível maior de qualidade”. O autor revela que poderiam existir as chamadas “edições de autor”, mas que, sem o filtro e a avaliação da editora, os livros podem perder “a qualidade que o leitor merece”.

Já Paulo Rebelo Gonçalves destaca ainda que “as editoras são fundamentais para a promoção do livro, da leitura e do conhecimento. Do seu trabalho e do seu investimento resulta, em grande medida, a emergência de todos os grandes nomes da literatura, bem como de autores ligados a inúmeras áreas do saber. As editoras dão dimensão ao trabalho criativo e científico dos autores”.





Fonte: https://espalhafactos.com       Por Diana Carvalho

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