terça-feira, 19 de maio de 2020

Desconhecidos compram livro para ajudar escritora que se endividou com editora



Essa história daria um livro! Qual jovem que gosta das letras nunca sonhou em publicar um livro? Esse era o desejo de Caira Lima, 22, mas o sonho virou pesadelo, só que com final feliz.

Caira se endividou toda para publicar a primeira edição do “A dor mais doída”. Gastou o que tinha e o que não tinha, levou um calote da editora, teve que procurar outra editora, gastou mais, publicou e, de repente, veio a pandemia e ela não teve mais como vender os exemplares nos eventos e feiras literárias.

Essa é a sinopse da história. A paraense de São Félix do Xingu foi estudar jornalismo em Palmas (TO). O TCC foi um livro-reportagem sobre o tema violência obstétrica e o material ficou tão bom que ela decidiu publicar. E aqui começa a saga.


Ela contratou uma editora e realizou um primeiro pagamento através de uma vaquinha que tinha feito. A data de lançamento foi marcada, mas na véspera a editora disse que o livro não ficaria pronto e sugeriu cancelar o lançamento.


“Aí não dava, minha família toda já tava vindo pra Palmas. Até uma tia funcionária pública mudou as férias para vir. Não dava pra cancelar”, relembrou. Para não frustar a família, Caira correu e imprimiu os livros na própria cidade. “Um material bem ruim, sem ISBN, fiquei triste, mas foi”, disse.

Livro publicado com nova editora saiu rapidinho. Foto: Arquivo pessoal

Em resumo, a editora não mandou os livros e ela teve que contratar outra editora. “Muita gente já tinha pago e eu tinha que entregar. Já era Natal, eu ia voltar pra minha cidade e tinha que levar os livros. Então peguei meu décimo terceiro e mandei rodar em outra editora”, explicou.


Pandemia cancelou eventos, escritora não vendeu os livros, mas internautas compraram
Em posse dos 500 exemplares, bastava a Caira vender os livros para quitar a dívida com a nova editora. Mas aí veio um novo e inesperado capítulo nessa história: a pandemia do coronavírus.


Livros ficaram engavetados porque não tinha como vender. Foto: Arquivo pessoal


Os eventos foram cancelados e ela não conseguiu vender os livros. Aí surgiu a ideia de postar sobre o problema no Twitter. “Não achei que fosse dar certo. Achei que ia ser muito criticada, de acharem que era mentira”.


Mas foi exatamente o contrário, muita gente apoiou e encomendou o livro. Ela já recebeu o pedido de 200 pessoas depois da postagem. Foi tanta mensagem que o DM travou.

“Fiquei muito surpresa, a repercussão foi enorme, com respostas muito positivas. Eu chorei de tanta alegria e tô até agora assim anestesiada de saber que existe tanta gente boa no mundo“, disse. Tem sim, Caira, muita gente boa nesse mundo!

Foi muita gente encomendando o livro logo após a postagem:



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Tio de Caira fez ilustrações do livro à mão e mandou por ônibus

Esse é um livro literalmente feito a muitas mãos. As ilustrações da edição foram feitas pelo tio de Caira, Jhol Alves. Ele mora no pequeno distrito de Taboca e enviou as obras em um ônibus para São Félix do Xingu, onde o pai de Caira recebeu, digitalizou e enviou para ela.


Depois uma amiga computadorizou as imagens. “Quero conseguir vender livros suficientes para presenteá-lo com equipamentos profissionais para ele fazer ilustrações“, disse.


A jovem escritora sempre teve incentivo dentro da família para seguir com os estudos e a leitura, apesar das dificuldades financeiras. “Aprendi a ler muito cedo, com 4 aninhos de idade, e sempre fui muito motivada a ler, pelos pais, tias”. Tanto é que todos participaram desse momento do lançamento do seu primeiro livro.

Foram madrugadas e madrugadas escrevendo, produzindo. Uma amiga fez a diagramação de graça. “Eu sempre acreditei que a informação, a leitura, pode mudar o mundo. O livro é a realização da minha vida, a melhor coisa que eu já fiz“.



Livro fala sobre violência obstétrica
“A dor mais doída” é um livro-reportagem que trata de um tema muito delicado: a violência obstétrica, que muitas mulheres sofrem na hora do parto.

“É um assunto pouco explorado. Me aprofundei no tema, entrevistei mulheres que sofreram, especialistas, relatos muito profundos. É muita dor, dá vontade de chorar, uma dor que não passa. Mulheres com parto traumático, 20 anos atrás, que ainda sofrem e tudo acontece por negligência, por falta de informação, de conhecer seus direitos e de empatia da equipe médica”, disse.


O Razões tem seu próprio podcast para espalhar boas notícias, ouça os episódios na sua plataforma favorita clicando aqui.

Caira estudou em escola pública, enfrentou dificuldades e foi fazer faculdade em Palmas morando de favor. “Eu quis fazer algo que voltasse pra sociedade porque eu estudei numa escola pública e é mantida pelo dinheiro público e sempre quis que voltasse para a sociedade esse investimento. Por isso o livro-reportagem”, disse.


Ainda há exemplares disponíveis e você pode pedir clicando aqui. “Queria que todas as mulheres pudessem ler esse livro pra se informar, que todos os médicos pudessem ler esse livro para saber que a dor que eles causam nunca vai passar”, finalizou.

O livro foi literalmente um parto, mas foi assim que “A dor mais doída” se transformou em alegria para Caira.

Fotos: Arquivo pessoal





Fonte: https://razoesparaacreditar.com      por Rafael Melo

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