domingo, 6 de outubro de 2019

+ Leitura - As Fatias do Mundo


O mundo é antigo mas as dores do homem perduram, desde sempre, semelhantes e inalteráveis. Para abrandar perda, falta, desencontro, solidão, provisoriedade, nós nos unimos como sujeitos de uma mesma viagem, possuindo como recompensa pela não escolha, a capacidade de reinventar o cotidiano. Quando tal exercício de alterar a força do destino se efetiva pela linguagem se torna mais digna. E a memória, onde repousa as trilhas vencidas, nos vai confirmando os rompimentos.

Buscar, no ontem as emoções de nossa história individual para torná-las coletiva sem negar as transformações que nos movem hoje, não é tarefa simples. Recorrer a densos momentos de sua existência, atualizando-os por meio de singular construção literária, é o trabalho de Nilma Gonçalves Lacerda nesse seu mais novo livro "As fatias do Mundo".

Como artesã e proprietária de um manual de tapeçaria e sabedora de que viver é feito a mão, a autora nos convida a partilhar desse banquete onde as fatias, de encantos e tristezas, nos são servidas confeitadas com grande beleza.

Nilma Lacerda pratica uma escritura também para jovens, mas seu entendimento de juventude alcança limites maiores. Ela reconhece ser jovem todos os portadores de desejos. Como educadora, Nilma sabe da necessidade de atender não apenas as solicitações fáceis geradas e circuladas pela mídia, ela nos propõe inusitados assuntos pelo seu poder de análise e construção não nos é possível esquecer jamais.

Em "As Fatias do Mundo", da Editora RHJ, o leitor experimenta no mínimo duas leituras. Uma primeira quando a autora nos mostra sua relação com a fome de desvendar os segredos do mundo, no dia a dia.

Uma segunda nos remetendo a outros alimentos, esses guardados na efetividade e capacidade de inaugurar outros olhares sobre nossa memória e condição. Ler "As fatias do Mundo" é tornar posse de delicados acontecimentos onde suspeitamos grandes deslumbramentos comuns a todos nós.



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