segunda-feira, 14 de outubro de 2019

‘Bom Sucesso’ triunfa no ibope com trama calcada na literatura

(Victor Pollak/TV Globo) 

No bairro de Bonsucesso, periferia do Rio de Janeiro, Paloma (Grazi Massafera) suspira ao ler a declaração de amor de Cyrano de Bergerac à sua prima Roxane. “É tão lindo. É alegre, engraçado, mas também é triste. Igual à vida”, diz ela ao namorado, Ramon (David Junior), enquanto divaga sobre a beleza da peça de 1897 escrita por Edmond Rostand. Distante dali, em um pedaço nobre da cidade, o Jardim Botânico, o empresário Alberto (Antonio Fagundes) se emociona com a mesma leitura e abraça a obra, lembrando de sua amiga e musa Paloma.

A sequência de Bom Sucesso, atual novela das 7 da Globo, seria só de um romantismo prosaico não fosse a audácia a que se propõe: indicar um clássico da literatura francesa de forma didática, mas graciosa, numa comédia ligeira da faixa de horário na qual jovens e donas de casa buscam, normalmente, apenas uma diversão fugaz antes do jantar. Os criadores da trama, Paulo Halm e Rosane Svartman, vão além: todos os capítulos oferecem pílulas de algum clássico da literatura, nacional ou mundial, sem cair em clichês, nem resvalar na abordagem tediosa que se costuma associar a iniciativas assim na TV aberta. Ao contrário: com uma trama embalada pela literatura, a novela atingiu a média de 30 pontos em São Paulo, o melhor resultado no horário desde 2007. É uma façanha elogiável.

Paloma e Alberto são opostos que se descobrem complementares quando exames trocados dão à moça a sentença de apenas seis meses de vida — resultado que recai sobre Alberto quando o erro do hospital é desfeito, e descobre-se que ele tem leucemia. Paloma é uma costureira, mãe solteira e pouco afeita às amarras sociais — tem filhos de pais diferentes, gosta de um bom samba e peita quem quer que seja em prol de suas verdades e de seus rebentos. Já Alberto é um velho rabugento e fechado, pai distante, dono de uma editora que luta contra a falência. Alberto contrata Paloma como acompanhante em seus últimos meses de vida. Ela lhe apresenta as felicidades da vida suburbana. Ele a introduz na literatura. O encanto mútuo pelo francês Bergerac acontece num momento em que os dois estão separados: ao ser chantageado pela filha, Nana (Fabiula Nascimento), e seu genro, o vilão Diogo (Armando Babaioff, ótimo), Alberto demite Paloma para protegê-la de ser acusada de roubo com uma prova falsa — o que o deprime em pleno tratamento. Alberto se sacrifica por sua musa, assim como Bergerac pela bela e inalcançável Roxane.

A novela, com realização do diretor artístico Luiz Henrique Rios e do diretor geral Marcus Figueiredo, traz pílulas de encenações de trechos das obras, com Grazi e Fagundes vestindo roupas de época em um cenário teatral. Esse foi o recurso adotado pelos autores para apresentar, de forma sedutora, não só livros eleitos por eles: parte das sugestões é do próprio Fagundes. Leitor que devora de dois a três livros por semana, o ator queria “contaminar” o espectador com a satisfação que a leitura traz. Foi Fagundes, aliás, quem sugeriu a citação a Bergerac, personagem interpretado por ele no teatro. O veterano ainda expandiu suas dicas para além da novela: desde setembro, ele conduz o podcast Clube do Livro por Antonio Fagundes. “É um universo que me encanta. A literatura ajuda o leitor a se reconhecer, formar sua cidadania, criar empatia”, diz o ator.





Fonte: https://veja.abril.com.br      Por Raquel Carneiro

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