sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Salão do Livro Infantil e Juvenil de Minas Gerais chega à sua 5ª edição

Alunos de escolas públicas da rede municipal formam o principal público do evento literário
Foto: Ignácio Costa/Divulgação

Libério Neves teve tempo de saber que, em breve, receberia uma merecida homenagem. Aos 85 anos, o poeta, mesmo internado no hospital, chegou a ver a primeira versão do material de divulgação do Salão do Livro Infantil e Juvenil de Minas Gerais. “Ele ficou feliz e emocionado”, diz a curadora Leida Reis.

O fim da vida, no entanto, chegou para o autor no dia 11 de agosto. A obra e a memória do escritor, chamado pelo escritor mineiro Emílio Moura de “goianeiro”, por ter nascido em Goiás e vindo para Minas Gerais na juventude, serão celebradas durante a 5ª edição do evento, que começa amanhã e continua até domingo (8), no Casa Raja Shopping, no bairro Estoril.

SAIBA MAIS SOBRE A PROGRAMAÇÃO do evento.

Além do autor homenageado, a curadoria constrói a programação sempre a partir de um tema, que nesta edição parte da frase “Tem criança, tem poesia”. A forma poética é apresentada de forma amplificada, segundo explica Leida. “Não somente a poesia no formato poema, mas a poesia presente em todo texto voltado às crianças”, diz a escritora.

Uma das oportunidades de jovens e adolescentes terem contato com a obra de Libério Neves, considerado um tanto esquecido pelas gerações atuais, será durante as oficinas chamadas “livro-minuto”. “Vamos usar os textos de Libério e trabalhar a construção do poema”, explica a curadora. O grupo Cantarolê, de Sabará, fica a cargo de musicar alguns dos poemas do autor. Intervenções poéticas podem aparecer a qualquer momento, também munidas de textos assinados pelo homenageado.

Como a faixa etária do público do Salão do Livro é elástica e engloba crianças de várias idades e com interesses diversos, outro desafio da organização é apresentar um cardápio de temas que tenha aderência junto a esse público, conhecido pela exigência. “Crianças em fase inicial terão a contação de histórias, pois é preciso usar o lúdico para tornar a literatura mais acessível. O bate-papo com autores, como a escritora Paula Pimenta, atende às crianças maiores”, contextualiza Leida.

Utilizar a literatura em outras formas artísticas é um trunfo da organização, e é desta fonte que bebem as atrações Quintal da Guegué, Cristiana Lobo, Rúbia Mesquita e o grupo de teatro ReVerso (Pará de Minas).

Especialistas no consumo e manuseio de tecnologia, os jovens terão possibilidade de conversar sobre o tema durante a mesa “Livros no celular, livro no papel”. Para Leida, por mais que as plataformas digitais existam, ela percebe que o público infantil ainda valoriza o livro impresso. “Defendemos o livro em todas as plataformas, seja papel, tablet ou celular, mas o momento de ler demanda atenção. As futuras gerações vão ler mais no digital, e precisamos nos preparar para isso”, reflete.

Para a escritora, independentemente do formato, o importante para um livro infantojuvenil é provocar identificação. “A criança gosta de se ver no livro, como aconteceu com ‘Harry Potter’. A literatura tem que ter um texto trabalhado, mas a criança quer sentir prazer e fugir de obrigação”, diz.

Se os temas precisam estar afinados com os interesses da garotada, a programação segue nesse tom e apresenta mesas que falam de literatura de um jeito transversal, como na mesa sobre astronomia para crianças, que acontece na sexta e no domingo.
Como a construção de um evento literário sempre acaba incentivada a partir do que o mercado editorial apresenta, a publicação dos livros “Leila”, de Tino Freitas, e “Não me Toca, seu Boboca”, de Andrea Viviana Taubman, cria a oportunidade de falar sobre abuso sexual infantil. O encontro com os autores acontece na sexta. “Ás vezes, a própria escola, por preconceito, acha que não deve falar sobre um tema polêmico como esse, mas achamos necessário”, diz Leida.

Inúmeros lançamentos de livros e rodas de leitura são distribuídos ao longo do evento.

Uma vida a ser redescoberta

Com 29 livros publicados, Libério Neves começou sua carreira literária na poesia, depois se arriscou no conto para, enfim, apostar suas fichas nos escritos dedicados ao público infantil. “Bolas de Jogo”, publicado em 2014, foi seu último livro.

“São 50 anos de literatura, já que ele publicou sua primeira obra em 1964”, contabiliza a professora Libéria Neves, filha do escritor.
Ela participa da homenagem que o Salão do Livro Infantil e Juvenil de Minas Gerais dedica a seu pai. “Acho de extrema importância (o tributo), pois ele manteve rigor e consistência durante sua produção literária. Sempre considerou a possibilidade de a criança fruir poesia, então é uma possibilidade de discutir contra a banalização do que é escrito para a criança”, explica a docente.

Para ela, essa é uma das marcas deixadas pelo pai. “Ele dizia que as crianças são inteligentes e não têm problemas em entender a poesia, que a criança faz fantasia com vocábulos novos. Ele não abria mão desse vigor”, sublinha.

Fazer com que a obra de Libério ecoe e alcance mais leitores é o objetivo da família e também do evento. “A paixão do meu pai relacionada a Minas o deixou dentro dessas fronteiras. Esse é um dos motivos pelo qual a poesia dele não circula com facilidade e ficou encerrada aqui nesse lugar”, pontua Libéria.





Fonte: www.otempo.com.br      Por Rafael Rocha

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