sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Personagens de obras literárias inspiram nomes de catarinenses

Seu Silvio e a filha, Lívia Leiras, com o livro que inspirou o nome dela, "Há Dois Mil Anos", de Chico Xavier(Foto: Gabriel Lain/ Diário Catarinense)

Você já parou para pensar em quantas inspirações os livros trazem para nossa a vida? Seja com expressões, tradições e até estimulando nossa criatividade e conversas do dia a dia? Algumas destas influências são marcantes: como nomes.

Já está no ar pela NSC TV (Rede Globo) a nova novela das sete, Bom Sucesso. O folhetim é gravado em ambientes como bibliotecas e fala muito sobre o amor pelos livros.

A personagem interpretada por Grazi Massafera, Paloma, inclusive, nomeou seus três filhos com personagens de obras literárias: Alice (no País das Maravilhas), Gabriela (Cravo e Canela) e Peter (de Peter Pan).

Paloma não é a única que usou os livros como fonte de criatividade. Pense bem: com certeza você tem um amigo ou familiar que tem nome de personagem. Aqui em Santa Catarina, conversamos com três pessoas que se inspiraram em obras e que serviram, igualmente, para criar uma nova história para as famílias. 

Grazi Massafera, como Paloma, e os filhos do folhetim: Alice, Peter e Gabriela(Foto: João Cotta/ Rede Globo/ Divulgação)


Estava escrito
Foi em 1978 quando o morador de São José, da Grande Florianópolis, seu Silvio Geraldo Leiras, hoje com 78 anos, leu pela primeira vez o livro "Há 2000 anos", escrito pelo médium Chico Xavier, através do espírito e seu guia, Emmanuel. A obra trata da história de Publio Lentulus, senador romano que viveu no mesmo período de Cristo, e que reencarnou séculos depois como Emmanuel.

Publio, na obra, tinha uma esposa chamada Lívia. Seu Sílvio ficou impressionado com o nome e com a personagem: uma mulher humilde, que chegou a dar a própria vida em prol da empregada da família. Elas foram presas por soldados romanos por suspeita de terem virado cristãs.

— É uma obra com muitos fatos de amor ao próximo e de viver para os mais humildes. Mas acabei emprestando o livro e o perdi. Em 1988 ganhei a obra de presente e voltei a reler, e novamente me impressionei com o nome - contou seu Silvio.

 
(Foto: Reprodução/ Divulgação)

O aposentado sempre teve costume em sublinhar as passagens que mais gostava nos livros que lia, e ao ler sobre "Livia", não foi diferente: fez um traço embaixo do nome.

— Eu já tinha duas filhas, mas passou pela minha cabeça que eu poderia dar este nome, caso eu tivesse mais uma filha — confessou.

O tempo passou, outras obras foram lidas, e dez anos depois, sua esposa, então, ficou grávida. E seria uma menina.

— Tínhamos outras duas opções de nomes, mas minha esposa também tinha gostado de Lívia - relatou seu Silvio.

Então, a caçula da família virou Lívia Leiras, que hoje tem 20 anos. A estudante fica emocionada ao mostrar a história da personagem, mas, principalmente, seu então nome sublinhado há mais de 30 anos pelo pai, no livro "Há 2000 anos".

— É como se estivesse escrito que seria para mim. É muito forte - disse ela.
Livia e seu Silvio(Foto: Gabriel Lain/ Diário Catarinense)


Ana Terra e Rodrigo
Quando ainda era criança, a moradora de Itajaí, Daniela Occhialini, de 44 anos, assistiu na televisão a série inspirada em "O Tempo e o Vento", um dos maiores clássicos da literatura nacional, escrito por Érico Veríssimo. A heroína Ana Terra ficou marcada na memória da oceanógrafa até sua vida adulta. A personagem é uma mulher forte, com uma vida difícil e marcada por quebrar diversas barreiras impostas num Rio Grande do Sul do século 18.

— Sou oceanógrafa e a parte do "Terra", tocou muito a questão ambiental . Se a gente avaliar o mundo que vivemos, seria muito bom, através do nome, dar este peso, esta força para ser guerreira. Foi o ponto crucial para a escolha do nome da minha primeira filha - explicou Daniela.

A mãe brinca e reconhece que o nome é forte é até diferente para uma criança.

— Quando ela era pequena, ela só dizia que era Ana. Agora, adulta, com 19 anos, usa o Ana Terra. Caracterizou-se por um nome forte... todos escutavam o nome dela uma vez e jamais esqueciam - contou a oceanógrafa.

Ana Terra e a mãe, Daniela(Foto: Arquivo Pessoal)

Anos depois, quando engravidou do terceiro filho, Daniela aproveitou outro personagem de "O Tempo e o Vento". Rodrigo, agora com sete anos, veio de Capitão Rodrigo, que na história de Veríssimo se casou com a neta de Ana Terra, Bibiana.

— Foi uma junção de fatores. Minha mãe, quando estava grávida de mim, achou que eu seria um menino e já tinha escolhido o nome Rodrigo. Então, quando eu engravidei de um menino, a sugestão do nome conciliava novamente com "O Tempo e o Vento". Foi o ponto forte para a escolha - relatou Daniela.

Somente depois que Daniela leu o clássico gaúcho - que é, na verdade, uma trilogia dividida em seis volumes. A família da oceanógrafa, inclusive, realizou uma viagem para as cidades onde se passou o romance, no Rio Grande do Sul, para sentir na pele um pouco a emoção das histórias contadas por Veríssimo. 

 
(Foto: Reprodução/ Divulgação)

Daniela ainda tem Nina Occhialini Perez, de nove anos. Apesar de o nome não ser inspirado em uma obra literária, tem uma história significante para a família. A vó da oceanógrafa, apesar de se chamar Maria, era apelidada de Nena. E sua bisavó, era chamada de Neni. Nina veio dessa junção e homenageou duas mulheres fortes da vida de Daniela.
Ana Karina de Anna Karenina

A moradora de Florianópolis Ana Karina Mochnacz cresceu em um ambiente inspirador: sua mãe era professora de história e, de noite, trabalhava como bibliotecária em uma universidade. Seu pai era mecânico durante o dia e auxiliar de biblioteca durante a noite. Não tinha como ser diferente: seu nome foi influenciado por uma das obras mais importantes do mundo: Anna Karenina, do russo Liev Tolstói.

A arquivista Ana Karina Mochnacz(Foto: Arquivo Pessoal)

— Nós morávamos em Porto União, no Planalto Norte. Meus pais tinham muito contato com livreiros, viviam em biblioteca. Mas a gravidez da minha mãe foi muito difícil. Foi rezada, na época, uma novena para Santa Ana. Então, quando nasci, era certo que teria Ana no nome, mas com um segundo nome vinculado - explicou.

A obra de Tólstoi fala de uma mulher que pertencia à alta sociedade russa, que, se sentindo vazia no casamento, iniciou um caso amoroso com um oficial. O casal fugiu para a Itália, mas voltou à Rússia tempos depois. Anna Keranina passou a ficar isolada novamente no país, e até possessiva, por conta da infidelidade do companheiro.

— Anna Karenina era uma personagem forte, moderna, que seguiu seus sentimentos e foi rechaçada pela sociedade. Penso que era este recado que minha mãe queria passar para mim quando decidiu pelo nome. Força para enfrentar uma sociedade que ainda não respeita mulheres fortes - avaliou.

No entanto, logo após o nascimento de Ana, ao chegar no cartório, o pai foi avisado que o nome não poderia ser registrado conforme o livro. O sobrenome da família já era ucraniano e ficaria "estrangeiro" demais. Então, de Anna Karenina, veio o Ana Karina. 

 
(Foto: Reprodução/ Divulgação)

O nome trouxe força. Ana hoje atua na área que cresceu. É arquivista e trabalha no Arquivo Central de uma universidade de Santa Catarina. Com tanta bagagem, ela aproveita e nos dá algumas sugestões de leitura, além de Anna Keranina.

Confira sugestões de obras que tratam sobre mulheres fortes
Jane Eyre, de Charlotte Brontë

A Glória que Passou, de Taylor Caldwell

Relíquias, de Tess Gerritsen

Gigantes Adormecidos, de Sylvain Neuvel

Luz e sombra, de Maria José Dupr?

A Rebelde do Deserto, de Alwyn Hamilton.





Fonte: www.nsctotal.com.br      Por Caroline Stinghen

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