terça-feira, 27 de agosto de 2019

Médica mantém centro que oferece atendimento gratuito a famílias de crianças com microcefalia


O surto de casos de microcefalia no Brasil vai completar três anos. Desde os primeiros casos, o Ministério da Saúde contabilizou mais de 3 mil crianças nascidas com a mal formação congênita. Uma das primeiras médicas a atentar para o problema foi a paraibana Adriana Melo. Especialista em medicina fetal, a doutora realizou pesquisas à época no líquido amniótico dos fetos e comprovou a relação da microcefalia com o vírus da zika. Daquele momento em diante, ela se dedicou aos cuidados com essas famílias e não parou mais.

“Era uma doença desconhecida e não tínhamos muito a dizer às famílias. Então, diante do desconhecido, segurei nas mãos delas e disse que não sabia nada da doença, mas que estaríamos juntas. E a partir dai, não tinha mais como parar”, revela.




A médica abdicou quase que totalmente da vida pessoal para realizar exames, acompanhamentos, consultas diariamente a dezenas, centenas de gestantes do Nordeste. Depois de descobrir a causa da doença, passou a participar da articulação de serviços públicos para oferecer o tratamento precoce para as crianças.



Sua vida então se dividiu entre os atendimentos, as participações de sessões e palestras no Brasil e no exterior para dar esclarecimentos sobre a doença, as pesquisas e as ações para promover melhorias na vida das famílias. Nesse período, ela realizou diversas ações de arrecadação de fundos para ajudar as crianças, como festinhas beneficentes, corrida beneficente, e o estabelecimento de doações por meio da conta de luz em toda a Paraíba. Com esses recursos, Adriana Melo realizou várias doações de fraldas, leite, alimentos e até móveis para as famílias. “Já chegamos até a vender velas em um cemitério no dia de Finados pela causa”, disse.

A luta de Adriana pelos direitos dessas crianças e famílias ganhou reconhecimento com prêmios nacionais e internacionais, além de publicações em periódicos importantes pelo mundo, mas não foi isso o que sempre moveu a médica. “Esse trabalho precisa de dedicação e tive que abrir mão de horários da minha clínica, vender as cotas de duas outras clínicas, reduzir o tempo com a família e com os amigos. Mas confesso que tudo valeu a pena. Ver a evolução de cada criança não tem preço”, relata emocionada.



Centro de apoio idealizado pela médica atende centenas de crianças e abriga até 30 famílias
O trabalho social e humano, para além do profissional, realizado por Adriana Melo foi expandido em julho de 2017. Com o apoio de outros profissionais, voluntários, doadores e do Instituto de Pesquisa Professor Joaquim Amorim Neto (Ipesq), do qual Adriana Melo já fazia parte, a médica conseguiu abrir um centro de apoio para as famílias e tratamento especializado para as crianças com microcefalia na cidade de Campina Grande, na Paraíba.


O serviço iniciou oferecendo fisioterapia intensiva durante cinco dias da semana para realizar a estimulação precoce dos sentidos, da coordenação motora e da parte cognitiva. Com o passar do tempo, o centro foi sendo ampliado e, atualmente, a equipe conta com fisioterapeuta, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, nutricionistas, psicólogo, pediatras, neuropediatra, otorrinolaringologista, oftalmologista e enfermeiras.





Além do acompanhamento dos profissionais qualificados, o local também oferece exames como tomografia, eletroencefalograma, ultrassonografia, raio-x, polissonografia, avaliação urodinâmica, entre outros. As crianças recebem ainda um kit com suplemento alimentar, fórmulas dietéticas, fraldas, espessantes para ajudar na deglutição dos alimentos, entre outros. O tratamento é todo gratuito, mas a médica estima que se as famílias tivessem que pagar por todos os serviços, eles custariam entre R$ 15 mil e R$ 20 mil por mês.

Uma das famílias beneficiadas é a de Alessandra de Souza, de 37 anos de idade. Alessandra mora na periferia de Campina Grande e trabalhava como diarista. Ela teve que deixar o trabalho para se dedicar ao filho Samuel. “Eu jamais teria condições de pagar um valor desses pelo tratamento dele. Graças a doutora Adriana e aos serviços da Secretaria de Saúde da cidade, Samuel desenvolveu muito nestes três anos”, relata.


O espaço atende crianças de toda a Paraíba, mas também de outros estados do Brasil, como Alagoas, Minas Gerais, Amazonas, Pernambuco, e até uma família de Angola, na África. A mãe teve uma filha com microcefalia, soube do centro de Campina Grande e fez contato para dar o tratamento adequado a sua filha. O centro tem ainda uma casa que recebe até trinta mães e suas famílias de outras regiões. Elas ficam em média três meses alojadas na casa para um tratamento contínuo e intensivo nas primeiras fases da vida das crianças.


A maioria da equipe é de bolsistas do Ipesq, que alia a pesquisa à assistência, mas também existem vários voluntários. Para garantir o funcionamento do projeto, as pessoas podem apadrinhar o tratamento das crianças, através da ONG Fraternidade Sem Fronteiras.




Como está a situação atual do problema?

Depois de quase três anos do surto da doença, vários projetos públicos e privados foram iniciados para dar assistência às mães, mas muitos já foram encerrados ou perderam força. “A situação foi esquecida, pouco se fala sobre o tema. Muitas promessas feitas não foram concretizadas. Algumas crianças recentemente tiveram o benefício bloqueado. A maioria das famílias está endividada principalmente nas farmácias. Muitas mulheres foram abandonadas pelos companheiros. Algumas estão deprimidas”, revela Adriana.

A médica compreende que a falta de serviços para essas crianças é só uma amostra da precariedade da saúde pública para deficientes no país. “Infelizmente a epidemia do Zika vírus apenas descortinou uma realidade difícil enfrentada pelas crianças com deficiência. Percebemos que as equipes nem sempre são capacitadas para enfrentar uma situação nova, terapias especializadas não são acessíveis, faltam vagas”, avalia.
Poder Público também mantém rede de serviços em Campina Grande

Em Campina Grande, cidade que abarcou centenas de casos da região, a Prefeitura Municipal montou inicialmente um ambulatório para as crianças com microcefalia e depois ampliou os atendimentos com assistência no Centro Especializado em Reabilitação (CER). Também foi construído o Centro-Dia, uma espécie de casa com diversas atividades educacionais para as famílias e as crianças com a má formação. As famílias residentes na cidade, que não tinham moradia, também tiveram preferência na aquisição de casas em um complexo habitacional construído no município.

Você conhece o VOAA? VOAA significa vaquinha online com amor e afeto. E é do Razões! Se existe uma história triste, lutamos para transformar em final feliz. Acesse e nos ajude a mudar histórias.

crédito das fotos: Arquivo Pessoal





Fonte: https://razoesparaacreditar.com      Por Rafael Melo

Nenhum comentário:

Postar um comentário