terça-feira, 20 de agosto de 2019

Ambulante de 13 anos vende balas sempre com um livro na mão e encanta clientes no RJ


Fábio Oliveira de Araújo tem 13 anos, e como qualquer jovem dessa idade, deveria estar frequentando a escola, a biblioteca e enchendo-se de conhecimento. No entanto, o rapaz que vive no Rio de Janeiro (RJ), é parte de uma estatística sombria do IBGE, que aponta que o estado tem a maior proporção de trabalho infantil urbano do Brasil. Fábio é vendedor ambulante, vende balinhas em frente ao shopping Rio Design Leblon, um dos locais mais nobres da capital.

O trabalho do jovem, entre balas e panos, como de tantos outros, passaria despercebido para muitos se não fosse um detalhe especial: Fábio vende seus produtos sempre com um livro na mão.




“Eu sei que, quando leio, chamo mais a atenção das pessoas, e isso ajuda nas vendas. Mas eu leio de verdade, porque gosto“, explica Fábio, que afirma que isso não se trata de uma ‘estratégia de vendedor’.

“Acho que, se não fosse pelo livro, eu não faria tantos amigos. Iam pensar que sou mais um por aí vendendo bala. E, se tem uma coisa que eu não gosto, é que as pessoas pensem isso de mim.”
Entusiasta dos livros

Seu amor pela leitura começou nos gibis. Após assistir o filme “Tudo por um popstar”, no ano passado, ele ficou eufórico ao descobrir que o longa é uma adaptação de um livro da escritora Thalita Rebouças.

Interessado nas obras da autora, Fábio leu todos os seus livros. Depois, mergulhou em séries infanto-juvenis consagradas, como “Diário de um Banana”, “Capitão Cueca” e “Percy Jackson”.


Também adentrou nos “livros de adulto”, como ele mesmo diz. Leu “O Minotauro”, de Monteiro Lobato, e o clássico “1984”, de George Orwell. Seu preferido, no entanto, é “Capitães de Areia”, de Jorge Amado.

O jovem começou a vender balas como ambulante quando tinha 9 anos. Atualmente vende no Leblon, tendo começado em Ipanema.

Com seu carisma, rapidamente atraiu a ‘fidelidade’ dos moradores e das pessoas que trabalham nos entornos. Seu acervo de livros é garantido com o auxílio de doações.

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“Às vezes, alguém me leva à Livraria da Travessa e deixa que eu mesmo escolha”, explica ele, que conta ter ganhado a coleção do “Capitão Cueca” de um vendedor da livraria.

“Eu já tinha, mas, para não fazer desfeita, não falei nada. Depois de um tempo, troquei por outros livros num sebo. Ele até falou que eu poderia participar de um projeto na Travessa, e uma assistente social chegou a ir lá em casa, mas a ideia acabou não se concretizando.”

Fábio nasceu na Cidade de Deus, tendo vivido por lá até os seis anos. Depois, mudou-se com a família para a Vila Kennedy, depois Chapadão e por fim, Avenida Brasil.

A mãe do garoto, Tiara Oliveira, também ambulante, afirma ter descoberto a paixão do filho pelos livros graças a uma publicação de uma moradora do Leblon no Instagram. “A moça fez um vídeo emocionada. Porque ela recusou a bala do Fábio, mas então ele respondeu pedindo para ela comprar um livro para ele.”

Fábio é um vendedor ambulante de 13 anos apaixonado por leitura


Acidente e rotina como ambulante nas ruas
Certo dia, enquanto trabalhava, o jovem ambulante foi atropelado e perdeu os dois dentes da frente. O acidente ocorreu no ano passado. Uma mulher lhe pagou o atendimento do dentista, mas ele não pôde seguir com o tratamento, pois sua tia e sua mãe não tinham tempo para levá-lo até a clínica.

Fábio conta que a rotina na rua, apesar de ter conquistado a simpatia dos moradores e ambulantes, nem sempre é agradável. Ele já sofreu agressões de outros jovens ambulantes, que “implicam” com ele, além de já ter sido alvo de ameaças de um vigilante da rua, que o impede de ficar embaixo da marquise do prédio do Rio Design.




“Um dia ele disse que ia me bater quando eu fosse no banheiro e falar que eu sou ladrão”, explica a criança, que diz evitar os conflitos para não atrapalhar as vendas. “Se eu brigar, me descontrolar, eu que vou ficar mal na foto e sair como errado. Por isso às vezes eu não faço nada, mas também não gosto de levar desaforo para casa.”

A vida de ambulante nas ruas cobra seu preço no ensino. Fábio está no quinto ano do ensino fundamental pela segunda vez, pois reconhece “não ter tempo suficiente para fazer todos os trabalhos”, apesar de ser um ótimo aluno de português.


“Eu quero fazer duas faculdades”
Seu grande sonho é estudar no Santo Agostinho, colégio próximo de onde trabalha, pois já ouviu que “lá as crianças são muito inteligentes”. Quando mais velho, deseja fazer intercâmbio nos EUA, e conseguir bolsa numa faculdade. Sobre sua profissão ideal, afirma que poderia ser “qualquer emprego que lhe garanta dinheiro”, mas não esconde o sonho de trabalhar com artes. “Eu quero fazer duas faculdades. Uma de algo artístico, e outra de administração, porque se a arte não der certo, eu tento fazer dinheiro como empresário. Tem que ter sempre um plano B, né tio?”

É possível que Fábio fosse ‘apenas mais uma criança’ a não ser notada pelas pessoas. Tragicamente, em uma sociedade que banaliza suas tragédias sociais, tratando-as como algo “natural”, o que deveria ser normal acaba chamando a atenção: um jovem lendo um livro.

“Acho que se não fosse pelo livro, eu não ia fazer tanto amigo assim. Iam pensar que sou mais um por aí vendendo bala. E se tem uma coisa que eu não gosto é que as pessoas pensem isso de mim.”

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Fonte: O Globo/Fotos: Alexandre Cassiano/Agência O Globo





Fonte: https://razoesparaacreditar.com      Por Gabriel Pietro

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