quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Revista inglesa publica conto do escritor alagoano Nilton Resende

Nilton Resende é escritor, ator, diretor, roteirista e professor de literatura
 — Foto: Josué Seixas 

O alagoano Nilton Resende teve o conto "A Ceia" publicado nesta semana pela revista inglesa Bookanista. Com tradução para o inglês de Kim M. Hastings, A Ceia virou The supper. O conto pode ser lido em português no blog do autor, o Trajes Lunares.

O G1 entrevistou Nilton Resende, escritor, ator, diretor, roteirista e professor de literatura, que há anos lê visceralmente no primeiro dia de aula de seus alunos o conto “Venha ver o pôr do sol", obra de Lygia Fagundes Telles.

Nilton está escrevendo um livro e se preparando para filmar em fevereiro o seu primeiro curta-metragem A barca, uma adaptação do conto Natal na barca, de Lygia Fagundes Telles. O curta foi contemplado no edital de audiovisual de Alagoas.

A Ceia já foi traduzido e publicado em espanhol e em francês. Um menino, um avô, pais e feijões se entrelaçam e formam o conto, que faz parte do livro Diabolô, publicado pela Edufal em 2011.

Além de Diabolô, o autor escreveu os livros 'O Orvalho e os dias', publicado em 1998 pela Editora Cone e revisado em 2006 pela Edufal; e 'Ouriço' (inédito), que vai ser publicado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos.


G1 - Como o conto pode ser resumido para quem ainda vai conhecê-lo? Podemos chamá-lo de um conto de lembranças?


Nilton Resende - Acho que o conto é sobre poder, prazer, o prazer que o poder dá, sobre instinto de preservação, sobre perversidades humanas...


G1 - Tem a ver com as suas lembranças?


Nilton Resende - Ele parte, sim, de algumas lembranças. Numa postagem em meu blog, falo disso e cito um texto muito interessante do Thomas Mann: Bilse e Eu.

Então, nas lembranças, há a casa em que morei quando criança, a casa do conto é ela. Em outros contos do livro Diabolô, há o bairro do Prado, há o mercado, o centro, lugares que frequentei na infância. Essa é minha geografia afetiva.

Daí, há a casa; há um jogo que eu jogava com meu avô materno; há o rapé que ele cheirava. Há diversos elementos, mas o menino do conto não sou eu, é o menino do conto.


G1 - Sabendo da sua ligação com a Lygia [Fagundes Telles], ela te inspirou nesse conto também?
Nilton Resende - Possivelmente, por causa do "menino danado", por causa de não haver maniqueísmo. Por causa de as personagens não serem boas ou más. E também por conta da técnica dela, que sempre me ensina. Mas a literatura me inspira e ensina. Todo autor que admiramos termina por ensinar. Agora mesmo, estou lendo alguns autores e tenho recebido muitos "ensinamentos". A gente aprende o tempo todo.


Leia abaixo um trecho do conto A Ceia:

Mordo o biscoito que levei vagaroso à boca, e ele quebrando-se é como ossos que se esmagam. Trituro-o e imagino desfazer-se a rede desenhada em sua superfície, lembrando-me o jogo que meu avô me ensinou e para o qual me convidou em tantas tardes. Biscoito, rede, ossos triturados. Mordo e sinto mastigar o velho, as migalhas saindo pelos cantos como se uns dedos tentassem escapar.


Na ocasião da tradução do conto para o inglês, a tradutora entrevistou Nilton Resende. A entrevista em inglês pode ser lida no site da revista (clique aqui). No blog do autor, você confere a entrevista em português (clique aqui).



'A Ceia' é um dos contos que compõem a obra 'diabolô', de Nilton Resende — Foto: Josué Seixas






Fonte: https://g1.globo.com       Por Roberta Batista

Nenhum comentário:

Postar um comentário