sábado, 9 de fevereiro de 2019

+ Leitura - Condenado a falar De A a Z Pólvora Pura


Com Jorge Kajuru não tem meio termo. Ou você gosta, ou você odeia, ou você não conhece. Este que vos escreve se encaixa facilmente no primeiro grupo. Não porque ele é autêntico, verdadeiro e todos os elogios que os amigos costumam fazer. Ele simplesmente é divertido, alguém que sabe fazer rir, seja falando verdades ou baboseiras astronômicas.

Seu livro é uma biografia comentada e recheada de brechas para processos. Condenado a Falar é um livro surpreendente. Em primeiro lugar pelo preço: 1 real. Sim… o frente (R$ 2,00) e a taxa de boleto (R$ 2,00) custam mais caro que a própria publicação. Gastei irrisórios 5 reais para ter em casa uma obra prima da comédia politico-esportiva.

Em segundo lugar porque houve momentos em que ri alto com certas passagens. Posso citar (sem estragar a surpresa) a pseudo conversa entre Galvão Bueno e Kajuru durante uma transmissão de futebol ao vivo. As definições dadas para as pessoas também são hilárias e muitas delas absolutamente verdadeiras, ainda que ácidas. Exemplo: “Paulo Maluf: nenhuma mulher me proporcionou tanto orgasmo quanto ver o Maluf preso e comendo a quentinha“. Vai entender a mente labiríntica de Jorge Kajuru!

Sim, você pode levar a sério o que Kajuru fala. Muitas das denúncias fazem completo sentido, mas outras são meras especulações aumentadas pela lente do ego ferido. Denunciar, aliás, está no sangue de Kajuru: aos 10 anos de idade ousou criticar o prefeito na rádio local e foi demitido. Uma das primeiras de tantas outras que viriam e que são contadas, com detalhes, nas 190 páginas que compõe a edição, muito bem acabada por sinal.

Os depoimentos contidos neles revelam um Kajuru paladino da Justiça, defensor dos oprimidos, mártir da verdade, alguém que sacrificou a própria saúde em prol do jornalismo sério, sem rabo preso. Não é exatamente a minha opinião sobre ele. Particularmente, acho que a melhor definição de Kajuru foi dada por Alexandre Goulart (e devidamente registrada no livro): “O homem e o profissional caminham juntos, sem ambiguidades. Tal condição aprisiona o jornalista ao homem e vice-versa“. A isenção, tantas vezes pregada por Kajuru, é justamente a primeira a ser ferida por ele. Ele pode ser isento de acordos políticos e dinheiro vindo de propagandas, mas não consegue ser separar a vida profissional da pessoal. Ele está certo? Deixo a você, leitor, esse julgamento.

Ao contrário do que diz o livro (em muitas das declarações que você lerá), Kajuru não tem o “defeito de falar a verdade”. O que ocorre é que ele não sabe COMO falar a verdade. O homem Kajuru tem todo o direito de achar que Fulano é um ladrão calhorda. Agora, enquanto jornalista, a função restringe-se (ou deveria restringir-se) a provar que o mesmo Fulano agiu fora da Lei e deixar que o leitor/ ouvinte decida o que acha. E é aí que entra a definição de Alexandre Goulart. Não há essa desambiguação. Kajuru prova e condena. Por conseqüência, é condenado.






Fonte: Ideia Fix

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