Com Jorge Kajuru não tem meio termo. Ou você gosta, ou você odeia, ou você não conhece. Este que vos escreve se encaixa facilmente no primeiro grupo. Não porque ele é autêntico, verdadeiro e todos os elogios que os amigos costumam fazer. Ele simplesmente é divertido, alguém que sabe fazer rir, seja falando verdades ou baboseiras astronômicas.
Seu livro é uma biografia comentada e recheada de brechas para processos. Condenado a Falar é um livro surpreendente. Em primeiro lugar pelo preço: 1 real. Sim… o frente (R$ 2,00) e a taxa de boleto (R$ 2,00) custam mais caro que a própria publicação. Gastei irrisórios 5 reais para ter em casa uma obra prima da comédia politico-esportiva.
Em segundo lugar porque houve momentos em que ri alto com certas passagens. Posso citar (sem estragar a surpresa) a pseudo conversa entre Galvão Bueno e Kajuru durante uma transmissão de futebol ao vivo. As definições dadas para as pessoas também são hilárias e muitas delas absolutamente verdadeiras, ainda que ácidas. Exemplo: “Paulo Maluf: nenhuma mulher me proporcionou tanto orgasmo quanto ver o Maluf preso e comendo a quentinha“. Vai entender a mente labiríntica de Jorge Kajuru!
Sim, você pode levar a sério o que Kajuru fala. Muitas das denúncias fazem completo sentido, mas outras são meras especulações aumentadas pela lente do ego ferido. Denunciar, aliás, está no sangue de Kajuru: aos 10 anos de idade ousou criticar o prefeito na rádio local e foi demitido. Uma das primeiras de tantas outras que viriam e que são contadas, com detalhes, nas 190 páginas que compõe a edição, muito bem acabada por sinal.
Os depoimentos contidos neles revelam um Kajuru paladino da Justiça, defensor dos oprimidos, mártir da verdade, alguém que sacrificou a própria saúde em prol do jornalismo sério, sem rabo preso. Não é exatamente a minha opinião sobre ele. Particularmente, acho que a melhor definição de Kajuru foi dada por Alexandre Goulart (e devidamente registrada no livro): “O homem e o profissional caminham juntos, sem ambiguidades. Tal condição aprisiona o jornalista ao homem e vice-versa“. A isenção, tantas vezes pregada por Kajuru, é justamente a primeira a ser ferida por ele. Ele pode ser isento de acordos políticos e dinheiro vindo de propagandas, mas não consegue ser separar a vida profissional da pessoal. Ele está certo? Deixo a você, leitor, esse julgamento.
Ao contrário do que diz o livro (em muitas das declarações que você lerá), Kajuru não tem o “defeito de falar a verdade”. O que ocorre é que ele não sabe COMO falar a verdade. O homem Kajuru tem todo o direito de achar que Fulano é um ladrão calhorda. Agora, enquanto jornalista, a função restringe-se (ou deveria restringir-se) a provar que o mesmo Fulano agiu fora da Lei e deixar que o leitor/ ouvinte decida o que acha. E é aí que entra a definição de Alexandre Goulart. Não há essa desambiguação. Kajuru prova e condena. Por conseqüência, é condenado.
Fonte: Ideia Fix
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